Um deputado que age, no mínimo, com economia


Deputado que trabalha para diminuir regalias dos outros parlamentares atesta o porquê de sua popularidade





Depois de três candidaturas o jornalista José Antônio Reguffe (PDT) foi eleito deputado Distrital em 2006. Antes disso era apresentador de um programa na TV Apoio, o “Idéias com o Reguffe”. Ele se orgulha de ter cumprido todas as suas promessas de campanha. Entre elas, abrir mão de todos os salários extras e reduzir em 20% a verba de gabinete, ele passou a receber R$ 2 mil de verba indenizatória, enquanto os outros deputados recebem R$ 11.250. Sozinho, vai economizar R$ 1.465.863 para os cofres públicos. Se diz um entre 24 deputados, mas acredita que vem cumprindo com seu papel, que é moralizar a Câmara Legislativa. Entre seus principais projetos estão a publicação em tempo real na internet de todas as receitas e despesas da Câmara, a realização de sessões deliberativas também às segundas e sextas-feiras, a redução do recesso parlamentar de 75 dias para 30 dias ao ano e a criação da disciplina Cidadania e Leitura de Jornais nas escolas e foi contra o aumento de 28% no salário dos parlamentares. Com esse currículo é natural que ele cause barulho na Casa.
Reguffe, no dia da entrevista ao NaPrática, acordou ás 7h, tomou café da manhã, recebeu duas pessoas, fez mais de uma hora de ligações, teve uma reunião até o horário de almoço, enquanto eu tentava falar com ele em seu gabinete. Voltou à Câmara para sessão parlamentar às 15h, de onde só saiu 18h45. Esperou para essa entrevista até às 19h15. Na sessão, votou contra o Refaz, programa do GDF que anistia dívidas e dá descontos a empresários negativados pela Secretaria da Fazenda. Ele explica que o Governo em vez de anistiar dívidas de grandes empresários, deveria premiar as pessoas físicas que sempre pagaram seus impostos em dias. “O Governo tinha que fazer um projeto para beneficiar quem sempre pagou seus impostos em dia e não quem deixa de pagar e se torna inadimplente”. E ainda deixa escapar que no final desta noite terá uma conversa política com o senador Cristovam Buarque.


Como você chegou à política?



Desde pequeno sempre gostei de política. A maioria das pessoas entram na política para representar um interesse. Seja dela, ou seja de terceiros. Alguns poucos por vocação. Eu acho que eu tenho um pouco de vocação. Eu diria que entrei na política por indignação. Por indignação por uma série de coisas que eu assistir e com as quais eu não concordava. Eu fiz movimento estudantil, fui presidente de um C.A e depois entrei para o DCE da UnB (Universidade de Brasília). E acabou que meu deu vontade de ser candidato. Não foi uma caminhada fácil. Foram três eleições para que pudesse vencer. E me orgulho de ter feito uma caminhada digna. Difícil, longa, mas absolutamente digna.



Quem foram às pessoas que te elegeram?



Eu acho que recebi o voto daquelas pessoas que estavam indignadas com a política, com a Câmara e com o que ela é hoje. Essas pessoas votaram em mim por um conjunto de propostas que apresentei. Quem votou em mim não votou por causa do meu rosto ou dos meus olhos, votou em mim por causa das minhas propostas e das minhas idéias. E eu me orgulho de ter chegada à Câmara e de ter cumprido tudo aquilo que prometi na campanha. Todas as medidas que eu disse que iria tomar como deputado eu tomei. Eu me orgulho de ter honrado todos os compromissos que assumidos na campanha. O que estou fazendo comigo neste mandato é me dar a chance de ser o político que eu sempre quis ver aqui dentro.

Depois daqui, reeleição ou a disputa por outro cargo político?



A minha maior preocupação não é com 2010, é com 2006. È com os compromissos que assumi com meu eleitor em 2006. E honrar com esses compromissos até o final. Com relação á 2010, é obvio que de vez em quando você pensa, mas eu não defini ainda o que vou fazer. E isso, sinceramente não é, hoje, a minha maior preocupação. A minha maior preocupação é honrar a procuração que a população me deu, essa que eu tenho tentado honrar com toda a dignidade e decencia.

Sobre a CPI dos Cemitérios, você chegou ameaçar uma saída no primeiro momento e no final acabou pedindo afastamento da comissão, qual a sua maior dificuldade em dialogar com os outros parlamentares da comissão?



Primeiro o porquê da CPI dos Cemitérios, era uma situação absurda a que encontrei. Uma pessoa enterrar um ente querido e em um momento de dor e saudade vai visitá-lo no cemitério e chegando lá descobrir que ele não está mais lá. Porque a administração do cemitério resolveu tirá-lo para poder vender aquele espaço para outra pessoa. Isto é inaceitável, é um absurdo, é revoltante! Depois de denunciar isto, vi que tinha outros casos e pedi então uma CPI. Ao começar a investigação, eles fizeram tudo para enterrar a CPI e fazer um conchavo, inclusive me tirando da direção. Mesmo assim, eu resolvi continuar e fiquei até o final. E chegando ao final, eles resolveram jogar a sujeira para debaixo do tapete. Eu tinha duas opções: ou votava contra e fazia um voto em separado; ou fazia um gesto mais forte para externar para a população minha indignação. E foi isso que eu fiz. Retirei-me da CPI, me desliguei para não legitimar o relatório final e o término das investigações. Em um gesto simbólico levei pizza ao Plenário, para mostrar para a sociedade que uma CPI que fazia um trabalho sério teve seu final transformado em uma verdadeira pizza.

Se você tivesse que demitir um deputado distrital, quem você demitiria?



Eu não demitiria nenhum parlamentar porque eu respeito uma coisa chamada voto. Discordo profundamente da forma com que alguns parlamentares ou a maioria deles se colocam diante de alguns temas. Muitas vezes voto sozinho. Já existe uma dezena de votações na Câmara que a votação acaba 23x1 ou 19x1. A população elegeu cada um que está aqui, eu respeito o voto da mesma forma como quero que respeite os votos que recebi. Mesmo discordando frontalmente de algumas coisas.



O que te incomoda mais na política?



É a falta de consciência, de responsabilidade dos políticos e a falta de honestidade em alguns casos, o quê na minha opinião é algo muito revoltante. E, também, a omissão por parte da população. A população tem muita culpa. Ele deveria acompanhar mais, cobrar mais, fiscalizar mais. E muitas vezes ela é omissa e faz prevalecer apenas o lado individualista de cada um. A classe política, infelizmente, não tem a menor consciência e responsabilidade com a população e com o futuro dessa cidade e desse país. É inaceitável, na minha opinião, que um deputado receba no mínimo 15 e no máximo 19 salários por ano, enquanto todo trabalhador recebe 13. Eu não posso aceitar que um deputado distrital tenha uma verba de gabinete superior a de um deputado federal. Eu tenho no meu gabinete, hoje, 14 assessores a menos que os outros deputados. Isso, na minha opinião, é um desperdício de dinheiro público. Eu não posso aceitar que um deputado tenha por mês R$ 11.250 de verba indenizatória. Um dinheiro que deveria estar na Educação, na Saúde, na Segurança. Isso pra mim não é normal. O que eu vejo é um total desperdício do dinheiro do contribuinte. E isso é ainda mais grave em uma cidade em que nos hospitais públicos chegam a faltar remédios básicos.

Recentemente você foi eleito um dos parlamentares mais respeitados da Casa. A que se deve isso?



É claro que você ter uma imagem melhor com a população é algo que tem que tentar buscar e lutar para isso. Mas a minha maior preocupação não é com a minha reputação é com a minha consciência. Reputação é o que as pessoas acham de você, consciência é que você sabe que você é. Agora se eu puder ter uma reputação melhor, tanto melhor.

Há quem te classifique como demagogo. Como você se defende?



Quem me dera se aqui na Câmara tivesse mais 23 demagogos iguais a mim. O contribuinte ficaria muito feliz, ao menos, teria o dinheiro de seus suados impostos economizados. O dinheiro público tem que ser gasto de forma profícua, na educação, saúde e segurança. Não posso aceitar o desperdício de dinheiro público com salários extras e R$ 11.250 para gastar com gasolina. Eu tenho minha consciência tranqüila de que eu estou realmente defendendo a população e honrando os votos que recebi. Agora, se eles preferem chamar isso de demagogia, eu prefiro dizer que quem dera que existisse mais 23 demagogos iguais a mim. O contribuinte agradeceria.
De quem você recebe mais apoio entre os parlamentares?
Depende (pausa e risos encabulados), isso varia de votação para votação, em muitos casos eu fico sozinho e em outros casos alguns parlamentares votam comigo. (Ele quase fala um nome, mas hesita)



Como forma de reconhecimento teria alguém?



Dessa forma como está colocando, não.

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