Meu eu tão teu

Esse negócio de amor incondicional não poderia ser menos complicado?  Não, acho que não. Se não já teríamos o segredo mais precioso dos relacionamentos mais importantes,  aqueles com os nossos pais. Já fiquei nove anos sem falar com meu pai, e não foi por coisa a toa.  Ele me falou coisas que um pai jamais poderia dizer a uma filha. As circunstâncias ajudaram nessa distância,  como ajudou no reencontro,  resolvi perdoar. Dessa vez perdoei de verdade. Porque sei, hoje,  que não dá pra ser melhor do que isso,  porque somos nós dois, três, quatro,  tudo cheio de defeitos. Pai dá pra gente virar as costas e tomar o rumo. Mas mãe,  mãe é complicado. Como viver sem elas? Elas são como anjos, deuses, heróis. Algo como seu alicerces,  sua força. Minha mãe é sempre a pessoa que mais se importa comigo e a primeira a receber minha ligação quando a coisa tá preta. Ela faz minha vontades,  me ajuda a pagar as contas quando não consigo sozinha,  me dá os melhores presentes. Enfim,  eu nem preciso falar da importância que ela tem na minha vida. Mas, infelizmente, ela tbm é o lado sombrio da minha vida. Tento ser uma boa filha,  mas pra ela isso tá longe de acontecer.  Sou meu pior eu pra ela, sem entender. Tento faze la enxergar melhorar seus defeitos,  para corrigi los e ser uma pessoa melhor, mas ela diz que não sou exemplo. Eu digo verde, ela diz azul. É sempre um desencontro,  nunca consigo entendê la.  Fico melhor longe. Infelizmente. Ela tira minhas forças, sabe como me atingir em cheio, me irritar. Sei de todos os defeitos dela, cresci com eles. Também sei das qualidades, essas ela também sabe, melhor até do que eu. E ainda assim é tão difícil a convivência.  Mesmo sabendo tanto uma da outra. Até acho que somos muito iguais, mas se fosse ela eu não faria tantas coisas. Por isso prefiro viver comigo mesma, pelo menos assim eu posso controlar a minha mãe que tem em mim. Perto dela,  só sou mais ela do que eu. Sozinha, sou mais eu.

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